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Deixe a preocupação de lado, aprenda a amar a tradução da sua história

Arunava Sinha explains how he captures the meaning, rhythm and emotion of a story in a new language.

Posted on 23/09/2025
By Arunava Sinha

Caro escritor, cara escritora, então você acabou de escrever uma história no idioma da sua escolha. Provavelmente optou pela língua que usa no dia a dia. Agora essa história vai ser traduzida para outro idioma, que talvez tenha pouco a ver com o seu. Das origens à sintaxe, do tom à estrutura, pode ser uma criatura bem diferente.

E ainda é preciso levar em conta quem vai ler a história traduzida. Talvez seja alguém de outra parte do mundo, sem acesso aos conhecimentos e à bagagem cultural que você espera que quem lê a história no idioma original tenha. Por mais cuidadosa que seja a escolha de palavras e frases nessa passagem do original para a tradução, você se pergunta se os elementos implícitos também estarão presentes nessa nova versão. Pode ser que haja um certo nervosismo, é normal.

Como tradutor, entendo sua preocupação. Também tenho minhas inquietações. Quando estou traduzindo, por exemplo, uma história do bangla para o inglês, fico muito ansioso: será que vou conseguir passar na minha tradução, em outro idioma, tudo o que está sendo dito nessa língua do meu dia a dia — a língua em que, para além de escrever ou ler, eu vivo? Além disso, que tipo de inglês vou usar, considerando minha própria relação com ele, pois talvez eu o utilize de uma forma não tão familiar para quem me lerá na versão traduzida?

Encontrar equivalências para as palavras e frases é o menor dos problemas. É certo que às vezes não haverá uma equivalência exata no idioma para o qual estou traduzindo, mas sempre poderei passar o sentido se empregar uma palavra ou frase de maneira mais abrangente e incluir algum contexto, se necessário. O recurso conhecido como “stealth gloss”, que podemos chamar de “glosa camuflada”, costura essas explicações no texto, tratando de manter o tom, mas sem deixá-lo com cara de nota de rodapé.

Alguns tradutores até optam por manter essas palavras e frases no original, com o objetivo de indicar para quem lê que elas representam algo fora do escopo de experiência e conhecimento no idioma de chegada. Entretanto, o mais importante é que a distância criada dessa maneira entre quem lê e um conceito pouco familiar não altere a experiência de leitura.

A primeira coisa que busco identificar ao traduzir é a relação entre o idioma “de origem” usado na história e a versão padrão desse mesmo idioma, ou seja, a língua que a maior parte das pessoas lê e entende com facilidade. A história usa a língua de um jeito diferente? É experimental? Tenta fazer coisas novas? Usa um registro fora do comum? Procuro garantir que a língua usada na minha tradução mantenha essa mesma relação entre a versão padrão do idioma “de chegada” e a versão criada por quem escreveu a história. Mudar essa relação poderá resultar em alguma perda no texto.

Em seguida, me pergunto: qual a experiência de leitura do original? O texto simplesmente flui para quem lê? Ou a pessoa tem que ficar parando para pensar naquilo que está lendo? Meu objetivo é reproduzir da melhor maneira possível essa experiência.

Por fim, vem a questão de como quem está traduzindo lê a história antes de passá-la para outro idioma. Aqui nos deparamos com um aspecto sensível. De minha parte, procuro não ler a história de um só jeito, mas fazer com que minha tradução seja lida de todas as maneiras nas quais o texto original poderia ser interpretado. A ideia é não limitar as possibilidades, mas preservá-las ou até expandi-las, em alguns casos.

Para mim, é importante que a tradução não crie a ilusão de que a história ganhou vida no idioma para o qual está sendo traduzida. No entanto, não distorço deliberadamente o uso do inglês para lembrar quem está lendo de que isso é uma tradução. A verdade é que o idioma original trabalha com um conjunto de notas diferentes, usadas por quem escreve para compor uma obra que muito se assemelha a uma composição musical. Traduzir é como tocar as mesmas notas em outro instrumento, levando em conta as especificações desse novo instrumento, sem ficar tentando fazer com que soe como o original.

Em suma, sua história, meu caro escritor, minha cara escritora, não existe apenas nas entradas correspondentes do dicionário. São esses outros elementos que fazem dela o que é. E, embora a versão traduzida nunca seja idêntica à que você escreveu, para começar porque o novo idioma tem sua própria lógica, ela dará vida nova ao seu texto, uma vida que pode ser tão vibrante quanto a que você deu a ele. Confie no tradutor.


Traduzido por Silvia Düssel Schiros
Prêmio Commonwealth para Contos está aberto para inscrições até 1º de novembro de 2025. O prêmio aceita o envio de contos em português. Envie seu conto gratuitamente por aqui.